Geografia é Amor!

O que é geografar senão falar de nós mesmos? Nós somos a Terra, o Céu, os Mares, as Casas. Somos nossa criação e o que fazemos dela. Nós somos o Espaço. Nós fazemos o Espaço. Então, deu certo... fomos nós. Se deu errado... também somos nós. O que é Geografar senão falar de nós mesmos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

“Mas lá no Centro?”


Não faz muito tempo, eu estava no bar da sauna, na Rua da Bahia, com minha namorada e mais alguns Tortugas quando decidimos ir para outro boteco. Acontece que para chegarmos aos veículos estacionados à Espírito Santos (não! não era o 2256 que fomos pegar) tivemos que passar pela Guajajaras – isso em plena sexta-feira a noite – onde presenciei alguns fatos interessantes.

Alguns leitores podem estar perdidos quanto aos locais (- Como assim saiu da BA para ir ao ES passando pelos selvagens indígenas???) ou quanto ao tempo (- Sexta-feira á noite? Era 13? Viu um Lobisomem, é isso?) ou mesmo quanto as pessoas (- Quem é você? Tortugas? Ops, errei o blog...). O fato é que o Centro de BELO HORIZONTE, MG, possui ruas com nomes de tribos indígenas (Guaicurus?), estados (Paraná?), rios (Paraná de novo?) e políticos folgados (Exceto Santos Dumont que não era político, mas mereceu a homenagem quando deu um rolé por aqui). E uma delas, no caso a Guajajaras, virou nos últimos tempos ponto de encontro de jovens universitários, jovens pré-universitários, jovens pós-universitários e qualquer outra denominação que o senhor leitor souber a respeito desse tipo de ser-humano.

Discutindo com o Alysson sobre os motivos da aglomeração chegamos a várias causas, entre elas a cerveja barata - se você acha que Latão de Bhrama a R$2,50 é barato, convenhamos-, a grande quantidade de Faculdades e Cursinhos que se encontra naquela região, tradicional ponto de encontro de Gays e Lésbicas (os esquisitos? Diria minha vovó, rs.), etc.

Contudo, mais uma vez não pôde deixar de Geografar mais a respeito. Não sei se você que está lendo aí costuma freqüentar a Região Central, principalmente se já tem tempo de vida pra se lembrar de como era difícil fazer isso anos atrás quando o Centro era sinônimo de camelôs, sujeira, trombadinha, ratazanas e sei lá mais o que. Porém, nos últimos tempos as coisas mudaram um pouco, exceto para a parte das ratazanas que continuam fazendo história. Projetos de “RESTAURAÇÃO” e “REQUALIFICAÇÃO” tendo a frente a Prefeitura e a CDL (-Que isso? Pergunta a Paulinha na sala. –Câmera de Dirigente Lojistas Paulinha, respondo) estão promovendo a chamada “reestruturação da área central”. Termos sugestivos, não acham?
Grande parte da nossa grana – dinheiro público – está sendo direcionado para deixar o centro mais, digamos, “atrativo”. Agora responda: Para quem e Por quê?

Te dou um tempo pra pensar...

E aí? Lembrou do início da história não é? – Para os Jovens Universitários e derivados.
Não só para eles, mas para novos e velhos moradores, transeuntes (adoro essa palavra, rs.) e principalmente CONSUMIDORES. Se não fosse para tal não estariam envolvidos CDL e Sindicato dos Comerciantes. De fato, o Centro ficou mais “atrativo” sim, tanto que estávamos lá tomando todas no final de semana, tanto que a quantidade de moradores cresceu consideravelmente nos últimos tempos – a saber: idosos e jovens majoritariamente -, tanto que os camelôs foram para as ruas com nomes de índio lá da parte baixa da cidade.

Aí que aparece a Guajajaras e as redondezas como ponto de encontro de toda a moçada que gosta de um bate-papo, um gole e outras coisas mais. Tudo vira um grande caldeirão, com vantagens e desvantagens, prestes a explodir. No entanto, dias atrás, discutíamos em sala uma reportagem que o SBT passou sobre certo Baile Funk que surgiu na Rua da Bahia, pertinho da Guajajaras. Na ocasião, os moradores adjacentes reclamavam da confusão que aquilo tinha se formado, em pleno ambiente residencial. Em sala, começa a discussão, quase sempre questionando o que acontece nos bailes – droga, barulho, sexo, brigas e a diversão dos “favelados”, falam alguns.

Alguém levanta:
- Mas lá no Centro?

Sim, lá no centro. A pergunta é interessante: - Como assim: baile funk trazendo um monte de pobre da periferia para o Centro? Realmente é inimaginável. Já aprendemos que lugar de rico é para ricos e de pobre é para pobre, bem longe dos ricos. Tudo bem se os jovens da classe média estão fazendo a mesma coisa na Guajajaras: roupas curtas, bagunça, brigas, drogas, sexo, palavrões, ilegalidades, etc. Aí pode ser no Centro. Mas “som de preto, de favelado, quando toca ninguém fica parado”. E não ficaram mesmo, “chama a reportagem”, “abaixo-assinado”, “prefeitura”, “Deus...”.

Enquanto continuarmos aceitando a segregação social e espacial existente no nosso dia-a-dia, lutando pelos nossos interesses pessoais e olhando para o nosso próprio umbigo continuaremos medíocres conservadores e fantoches da falsa cidadania sconsumista e reacionária. Vivemos uma cidade que se processa fragmentada, dividida de acordo com a sua condição social, de acordo com a sua cor da pele, do seu gosto musical, de quem você é filho, de onde você mora. E aceitamos que isso é normal. Saem os “favelados” do centro porque reformamos isto tudo aqui só para nós. E não vá achando que eles vão ficar:

- nós já tiramos os camelôs, vocês vão sair.
- Mas e “nois” aqui no Balaio de Gato, podemo fica? Nois é estudante.
- Claro! Vocês são cidadãos [consumidores], ajuizados [brancos] e legais [nossos filhos].

Por fim, achamos melhor ir para Venda Nova, estava tarde e estávamos cansados. Lá tem de tudo e de todos, onde posso continuar geografando e falando de nós mesmos.


Abraço!